Health & Wellness

Definição de Doença Celíaca

Alimentos e Intolerâncias Alimentares
Todos sabemos que os alimentos são indispensáveis à vida pois fornecem as substâncias necessárias para o normal crescimento e desenvolvimento e até para a manutenção da nossa actividade diária. No entanto, eles só podem ser utilizados pelo organismo após terem sido digeridos e absorvidos pelo tubo digestivo: a digestão e absorção são portanto funções fundamentais para a manutenção e bem estar do indíviduo.

Há contudo algumas pessoas que não suportam determinados alimentos pois quando estes são ingeridos e entram em contacto com a mucosa do intestino, vão desencadear reacções mais ou menos violentas que provocam lesões e perturbam o seu normal funcionamento, nomeadamente no que diz respeito à digestão e absorção. Diz-se então que existe uma INTOLERÂNCIA ALIMENTAR, a qual pode ser contra o peixe, o marisco, o leite, etc. e manifestar-se por períodos mais ou menos longos da vida destes indivíduos.

Quando uma situação deste tipo diz especificamente respeito ao GLÚTEN e se manifesta de forma permanente e definitiva, pode dizer-se que se trata de DOENÇA CELÍACA.

O Glúten
O grão de trigo tem, como os outros cereais, uma estrutura complexa em cuja composição entram muitas substâncias das quais nem todas são agressivas para o intestino do celíaco. O pericarpo e o gérmen são geralmente aproveitados no processo de produção da farinha, constituindo aquilo a que vulgarmente se chama o farelo. Naturalmente não será aí que encontraremos o responsável pela doença.

No que respeita ao endosperma, há que considerar por um lado o amido (que está totalmente inocente neste processo!), e por outro, um numeroso grupo de proteínas com características físico-químicas diversas. Neste grupo podemos distinguir aquelas que se dissolvem na água (albuminas e globulinas) das que o não fazem.

É ao conjunto das proteínas insolúveis que se chama genericamente GLÚTEN e foi a partir dele que se isolaram diversas fracções com efeitos nocivos para o celíaco. Na prática porém, é apenas o glúten que nos interessa. A sua “agressividade” depende da sua composição e como esta não é igual em todos os cereais, eles são tolerados de forma diferente: Assim, enquanto o trigo, o centeio e a cevada têm de ser completamente afastados da alimentação do celíaco, outros cereais como o milho e o arroz são perfeitamente inofensivos. Quanto à aveia, o problema não está bem esclarecido e alguns autores consideram-na mesmo inofensiva. isto porém, não é normalmente aceite e por isso ela será colocada aqui ao lado dos outros cereais agressores.

A Doença Celíaca
Quando o intestino de um celíaco tem de suportar uma alimentação sem restrições, o glúten dos cereais habitualmente consumidos vai provocar alterações tão profundas que impedem o normal aproveitamento dos alimentos e levam ao aparecimento dos sintomas. Se o glúten for retirado essas alterações desaparecem e tudo volta ao normal…desde que o doente não deixe de cumprir a dieta!

Esta doença pode aparecer em qualquer idade desde que o glúten já tenha sido incluído na alimentação. O habitual é surgir pelo segundo ou terceiro semestre da vida (entre os 6 e os 20 meses de idade), alguns meses depois da introdução das farinhas na alimentação (papas, pão, bolachas, etc.). A criança começa a perder o apetite, deixa de aumentar de peso, torna-se triste e irritável, as dejecções começam a ser mais frequentes, moles e volumosas (diarreia) e o abdómen (a “barriga”) torna-se mais saliente e distendido. Se o diagnóstico não fôr feito e a dieta instituída, a situação vai-se agravando e a criança atinge por vezes estados de malnutrição muito grave. Num pequeno número de casos os sintomas são diferentes: às vezes aparecem apenas vómitos de repetição, dores abdominais de intensidade variável, prisão de ventre ou apenas um atraso de crescimento sem explicação aparente.

São situações que só um médico experimentado associa à doença celíaca e que podem levar muito tempo para serem diagnosticadas. Por razões que desconhecemos, as manifestações da doença são geralmente mais intensas nos primeiros anos de vida e tendem depois a diminuir de intensidade. Assim, na criança mais velha e no adolescente, as falhas na dieta não levam muitas vezes à diarreia e o doente continua a sentir-se bem. Este facto pode levar, como já vimos, ao abandono do tratamento.

Infelizmente a doença celíaca não tem cura pelo que a reintrodução do glúten na alimentação determinará mais tarde ou mais cedo o reaparecimento de alguns sintomas: anemia, aumento discreto do volume do abdómen, baixa no rendimento escolar, paragem do crescimento, ausência ou perturbações da mestruação e, no adulto, baixa de fertilidade ou mesmo esterilidade. Deve portanto acentuar-se que uma vez estabelecido com segurança o diagnóstico, A DIETA TERÁ DE SER CUMPRIDA DURANTE TODA A VIDA.

O que ainda não está perfeitamente esclarecido é a razão pela qual só algumas pessoas são intolerantes ao glúten e desenvolvem a doença. É natural que intervenham aqui factores relacionados com a alimentação do indivíduo, o que poderá de alguma forma justificar a inexistência desta patologia nos países do oriente onde a base alimentar não é o trigo.

Hoje porém não restam dúvidas de que existe uma predisposição hereditária claramente transmitida, pois as famílias de celíacos contam com um número de doentes francamente superior ao que seria de esperar na população em geral. Os estudos efectuados permitiram calcular ser cerca de 10 vezes maior o risco de reaparecimento da doença após o primeiro caso num dos pais ou irmãos. Quando a doença existe em parentes afastados, este risco é muito mais pequeno. Será provavelmente da conjunção destes dois tipos de factores que resulta o terreno favorável para o aparecimento da doença. Esta parece corresponder a uma perturbação do sistema de defesas do organismo que, em consequência disso, reagiria de forma anormal ao glúten alimentar provocando assim as alterações da mucosa intestinal e, em última análise, o aparecimento dos sintomas.

Doença Celíaca: Uma história longa mas interessante
Há cerca de 10 000 anos os povos verificaram que era possível semear a terra e obter colheitas de cereais como o trigo, por exemplo. A partir de então o seu rendimento era tal que lhes permitiu viverem no mesmo sítio sem necessidade de andarem constantemente à procura de alimentos. Uma consequência desta descoberta foi a civilização, outra foi o risco de ter a doença celíaca!

No séc. II um grego, Aretaeus da Capadócia, descreveu doentes com um determinado tipo de diarreia usando a palavra “Koiliakos” (aqueles que sofrem do intestino). Tudo leva a crer que já nessa altura ele se referia àquilo que em 1888 Samuel Gee, um médico de Londres, observou em crianças e adultos e que designou por “afecção celíaca”, aproveitando também o termo grego. No seu escrito, Gee previa com grande intuição que “controlar a alimentação é a parte principal do tratamento…a ingestão de farináceos deve ser reduzida…e se o doente pode ser curado, há-de sê-lo através da dieta”.

Nos anos que se seguiram, vários médicos, particularmente pediatras, dedicaram-se a observar e a tentar compreender as causas desta doença, embora poucos avanços se tenham obtido. Durante a 2ª Guerra Mundial o racionamento de alimentos imposto pela ocupação alemã reduziu drasticamente o fornecimento de pão à população holandesa. O prof. Dicke, de Utrech, verificou então que as crianças com “afecção celíaca” melhoravam da sua doença apesar da grave carência de alimentos. Associou este facto com o baixo conteúdo da dieta em cereais.

Esta associação seria confirmada mais tarde em Birmingham por Charlotte Anderson e trabalhos de laboratório viriam demonstrar finalmente que o trigo e o centeio continham a substância que provoca a doença: o glúten! J. W. Paulley, um médico inglês, observara entretanto num celíaco operado que a sua mucosa intestinal não tinha o aspecto habitual; este facto, confirmado por outros investigadores, foi extremamente importante pois essas alterações passariam a permitir um diagnóstico com bases seguras.

A importância desta descoberta aumentou quando nos anos 50 um oficial americano, Crosby, e um engenheiro, Kugler, desenvolveram um pequeno aparelho com o qual se podiam efectuar biópsias do intestino sem necessidade de operar o doente. Este aparelho, a cápsula de Crosby, ainda hoje, com pequenas modificações, é usado para fazer o diagnóstico da doença celíaca.

Ao longo do tempo esta doença tem sido chamada de muitas maneiras, como celiaquia, enteropatia sensível ao glúten, sprue celíaco, sprue não tropical, etc. Todos estes nomes se referem à mesma situação mas alguns deles foram utilizados por investigadores que estavam convencidos de que se tratava de um problema diferente.

Para terminar com este estado de coisas, a Sociedade Europeia de Gastroenterologia e Nutrição Pediátrica (ESPGAN) propôs em 1969 um certo número de critérios que permitissem um diagnóstico e tratamento correctos. Assim, quando falamos de doença celíaca estamos a referir-nos a uma situação de intolerância permanente ao glúten que se acompanha de lesões do intestino mais ou menos características, lesões estas que melhoram quando o glúten é retirado da alimentação e voltam a agravar-se quando ele é reintroduzido.

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Salud y Bienestar

Definición de Enfermedad Celíaca

Alimentos e Intolerancias Alimentarias

Todos sabemos que los alimentos son indispensables para la vida, ya que proporcionan las sustancias necesarias para el crecimiento y desarrollo normales e incluso para el mantenimiento de nuestra actividad diaria. Sin embargo, solo pueden ser utilizados por el cuerpo después de haber sido digeridos y absorbidos por el tracto digestivo: por lo tanto, la digestión y la absorción son funciones fundamentales para el mantenimiento y el bienestar del individuo.

Sin embargo, hay algunas personas que no admiten ciertos alimentos porque cuando se comen y entran en contacto con la mucosa intestinal, desencadenarán reacciones más o menos violentas que causan lesiones y alteran su funcionamiento normal, es decir, con respecto a la digestión y la absorción. . Se dice entonces que existe una INTOLERANCIA ALIMENTARIA, que puede ser contra el pescado, los mariscos, la leche, etc. y se manifiestan por períodos más o menos largos de la vida de estos individuos.

Cuando tal situación concierne específicamente a GLUTEN y se manifiesta de manera permanente y definitiva, se puede decir que es ENFERMEDAD CELIACA.

Gluten

El grano de trigo tiene, como otros cereales, una estructura compleja, cuya composición incluye muchas sustancias, no todas las cuales son agresivas para el intestino del celíaco. El pericarpio y el germen se usan generalmente en el proceso de producción de harina, lo que constituye lo que comúnmente se llama salvado. Naturalmente, aquí no es donde encontraremos a la persona responsable de la enfermedad.

Con respecto al endospermo, es necesario considerar, por un lado, el almidón (¡que es totalmente inocente en este proceso!), Y por otro, un gran grupo de proteínas con diferentes características físicas y químicas. En este grupo podemos distinguir aquellos que se disuelven en agua (albúminas y globulinas) de aquellos que no lo hacen.

Es el conjunto de proteínas insolubles que genéricamente se llama GLUTEN y de él se aislaron varias fracciones con efectos nocivos sobre el celíaco. En la práctica, sin embargo, solo el gluten nos interesa. Su “agresividad” depende de su composición y, dado que esto no es lo mismo en todos los cereales, se toleran de manera diferente: por lo tanto, mientras que el trigo, el centeno y la cebada deben eliminarse por completo de la dieta celíaca, otros cereales como el maíz y el arroz son perfectamente inofensivos. En cuanto a la avena, el problema no se entiende bien y algunos autores lo consideran incluso inofensivo. esto, sin embargo, no se acepta normalmente y, por lo tanto, se colocará aquí junto a los otros cereales atacantes.

Enfermedad Celíaca

Cuando el intestino de un celíaco tiene que soportar una dieta sin restricciones, el gluten en los cereales que generalmente se consumen provocará cambios tan profundos que impedirán el uso normal de los alimentos y provocarán la aparición de síntomas. Si se elimina el gluten, estos cambios desaparecen y todo vuelve a la normalidad … ¡siempre y cuando el paciente no deje de cumplir con la dieta!

Esta enfermedad puede aparecer a cualquier edad siempre que el gluten ya se haya incluido en la dieta. Lo habitual es aparecer durante el segundo o tercer semestre de vida (entre 6 y 20 meses de edad), unos meses después de la introducción de harina en la dieta (gachas, pan, galletas, etc.). El niño comienza a perder el apetito, deja de aumentar de peso, se pone triste e irritable, los excrementos comienzan a ser más frecuentes, suaves y voluminosos (diarrea) y el abdomen (el “vientre”) se vuelve más prominente y estirado. Si no se hace el diagnóstico y se instituye la dieta, la situación empeora y el niño a veces alcanza estados de desnutrición muy grave. En un pequeño número de casos, los síntomas son diferentes: a veces solo hay vómitos recurrentes, dolores abdominales de intensidad variable, estreñimiento o simplemente un retraso en el crecimiento sin explicación aparente.

Estas son situaciones que solo un médico experimentado asocia con la enfermedad celíaca y que puede llevar mucho tiempo diagnosticar. Por razones que desconocemos, las manifestaciones de la enfermedad son generalmente más intensas en los primeros años de vida y luego tienden a disminuir en intensidad. Por lo tanto, en niños mayores y adolescentes, las fallas dietéticas a menudo no conducen a diarrea y el paciente continúa sintiéndose bien. Este hecho puede conducir, como ya hemos visto, a abandonar el tratamiento.

Desafortunadamente, la enfermedad celíaca no tiene cura, por lo que la reintroducción del gluten en la dieta tarde o temprano provocará la reaparición de algunos síntomas: anemia, ligero aumento en el volumen del abdomen, bajo rendimiento escolar, detención del crecimiento, ausencia o alteraciones en el título de maestría. y, en adultos, baja fertilidad o incluso esterilidad. Por lo tanto, debe enfatizarse que una vez que el diagnóstico se establezca de manera segura, LA DIETA DEBE CUMPLIRSE PARA TODA LA VIDALo que aún no está del todo claro es la razón por la cual solo unas pocas personas son intolerantes al gluten y desarrollan la enfermedad. Es natural que intervengan aquí factores relacionados con la dieta del individuo, lo que de alguna manera puede justificar la inexistencia de esta patología en países del este donde la base alimenticia no es el trigo.

Hoy, sin embargo, no hay duda de que existe una clara predisposición hereditaria, ya que las familias de celíacos tienen un número significativamente mayor de pacientes de lo que se esperaría en la población general. Los estudios realizados permitieron calcular que el riesgo de recurrencia de la enfermedad era aproximadamente 10 veces mayor después del primer caso en uno de los padres o hermanos. Cuando la enfermedad existe en parientes lejanos, este riesgo es mucho menor. Es probablemente la combinación de estos dos tipos de factores lo que resulta en un terreno favorable para el inicio de la enfermedad. Esto parece corresponder a una alteración del sistema de defensa del cuerpo que, como resultado, reaccionaría de manera anormal al gluten de los alimentos, causando cambios en la mucosa intestinal y, en última instancia, la aparición de síntomas.

Enfermedad celíaca: una historia larga pero interesante
Hace unos 10.000 años, la gente se dio cuenta de que era posible sembrar la tierra y obtener cultivos de cereales como el trigo, por ejemplo. A partir de entonces, sus ingresos fueron tales que les permitió vivir en el mismo lugar sin tener que buscar comida constantemente. Una consecuencia de este descubrimiento fue la civilización, ¡otra fue el riesgo de tener enfermedad celíaca!

En el siglo II un griego, Areteo de Capadocia, describió a pacientes con cierto tipo de diarrea usando la palabra “Koiliakos” (aquellos que sufren del intestino). Todo sugiere que incluso entonces se estaba refiriendo a lo que en 1888 Samuel Gee, un médico de Londres, observó en niños y adultos y que llamó “enfermedad celíaca”, aprovechando también el término griego. En su escrito, Gee intuyó con gran intuición que “controlar los alimentos es la parte principal del tratamiento … la ingesta de farináceo debe reducirse … y si el paciente puede curarse, debe hacerse a través de la dieta”.

En los años que siguieron, varios médicos, especialmente pediatras, se dedicaron a observar y tratar de comprender las causas de esta enfermedad, aunque se han realizado pocos progresos. Durante la Segunda Guerra Mundial, el racionamiento de alimentos impuesto por la ocupación alemana redujo drásticamente el suministro de pan a la población holandesa. Profe. Dicke, de Utrech, descubrió que los niños con “enfermedad celíaca” mejoraron a pesar de la grave falta de alimentos. Asociado esto con el bajo contenido de la dieta de cereales.

Charlotte Anderson luego confirmaría esta asociación en Birmingham y el trabajo de laboratorio finalmente demostraría que el trigo y el centeno contenían la sustancia que causa la enfermedad: ¡el gluten! Mientras tanto, J. W. Paulley, un médico inglés, había observado en un celiaco operado que su mucosa intestinal no se veía como siempre; Este hecho, confirmado por otros investigadores, fue extremadamente importante ya que estos cambios permitirían un diagnóstico con una base segura.

La importancia de este descubrimiento aumentó cuando en la década de 1950 un oficial estadounidense, Crosby, y un ingeniero, Kugler, desarrollaron un pequeño dispositivo con el que realizar biopsias del intestino sin tener que operar al paciente. Este dispositivo, la cápsula de Crosby, incluso hoy en día, con modificaciones menores, se utiliza para diagnosticar la enfermedad celíaca.

Con el tiempo, esta enfermedad se ha denominado de muchas maneras, como la celiaquia, la enteropatía sensible al gluten, la celiaquía, la enfermedad no tropical, etc. Todos estos nombres se refieren a la misma situación, pero algunos de ellos fueron utilizados por investigadores que estaban convencidos de que era un problema diferente.

Para poner fin a esta situación, la Sociedad Europea de Gastroenterología y Nutrición Pediátrica (ESPGAN) propuso en 1969 una serie de criterios que permitirían un diagnóstico y tratamiento correctos. Por lo tanto, cuando hablamos de la enfermedad celíaca nos referimos a una situación de intolerancia permanente al gluten que se acompaña de lesiones intestinales más o menos características, lesiones que mejoran cuando se elimina el gluten de los alimentos y empeoran nuevamente cuando Se reintroduce.

 

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Saúde & Bem-Estar

Definição de Doença Celíaca

Alimentos e Intolerâncias Alimentares

Todos sabemos que os alimentos são indispensáveis à vida pois fornecem as substâncias necessárias para o normal crescimento e desenvolvimento e até para a manutenção da nossa actividade diária. No entanto, eles só podem ser utilizados pelo organismo após terem sido digeridos e absorvidos pelo tubo digestivo: a digestão e absorção são portanto funções fundamentais para a manutenção e bem estar do indíviduo.

Há contudo algumas pessoas que não suportam determinados alimentos pois quando estes são ingeridos e entram em contacto com a mucosa do intestino, vão desencadear reacções mais ou menos violentas que provocam lesões e perturbam o seu normal funcionamento, nomeadamente no que diz respeito à digestão e absorção. Diz-se então que existe uma INTOLERÂNCIA ALIMENTAR, a qual pode ser contra o peixe, o marisco, o leite, etc. e manifestar-se por períodos mais ou menos longos da vida destes indivíduos.

Quando uma situação deste tipo diz especificamente respeito ao GLÚTEN e se manifesta de forma permanente e definitiva, pode dizer-se que se trata de DOENÇA CELÍACA.

O Glúten

O grão de trigo tem, como os outros cereais, uma estrutura complexa em cuja composição entram muitas substâncias das quais nem todas são agressivas para o intestino do celíaco. O pericarpo e o gérmen são geralmente aproveitados no processo de produção da farinha, constituindo aquilo a que vulgarmente se chama o farelo. Naturalmente não será aí que encontraremos o responsável pela doença.

No que respeita ao endosperma, há que considerar por um lado o amido (que está totalmente inocente neste processo!), e por outro, um numeroso grupo de proteínas com características físico-químicas diversas. Neste grupo podemos distinguir aquelas que se dissolvem na água (albuminas e globulinas) das que o não fazem.

É ao conjunto das proteínas insolúveis que se chama genericamente GLÚTEN e foi a partir dele que se isolaram diversas fracções com efeitos nocivos para o celíaco. Na prática porém, é apenas o glúten que nos interessa. A sua “agressividade” depende da sua composição e como esta não é igual em todos os cereais, eles são tolerados de forma diferente: Assim, enquanto o trigo, o centeio e a cevada têm de ser completamente afastados da alimentação do celíaco, outros cereais como o milho e o arroz são perfeitamente inofensivos. Quanto à aveia, o problema não está bem esclarecido e alguns autores consideram-na mesmo inofensiva. isto porém, não é normalmente aceite e por isso ela será colocada aqui ao lado dos outros cereais agressores.

A Doença Celíaca

Quando o intestino de um celíaco tem de suportar uma alimentação sem restrições, o glúten dos cereais habitualmente consumidos vai provocar alterações tão profundas que impedem o normal aproveitamento dos alimentos e levam ao aparecimento dos sintomas. Se o glúten for retirado essas alterações desaparecem e tudo volta ao normal…desde que o doente não deixe de cumprir a dieta!

Esta doença pode aparecer em qualquer idade desde que o glúten já tenha sido incluído na alimentação. O habitual é surgir pelo segundo ou terceiro semestre da vida (entre os 6 e os 20 meses de idade), alguns meses depois da introdução das farinhas na alimentação (papas, pão, bolachas, etc.). A criança começa a perder o apetite, deixa de aumentar de peso, torna-se triste e irritável, as dejecções começam a ser mais frequentes, moles e volumosas (diarreia) e o abdómen (a “barriga”) torna-se mais saliente e distendido. Se o diagnóstico não fôr feito e a dieta instituída, a situação vai-se agravando e a criança atinge por vezes estados de malnutrição muito grave. Num pequeno número de casos os sintomas são diferentes: às vezes aparecem apenas vómitos de repetição, dores abdominais de intensidade variável, prisão de ventre ou apenas um atraso de crescimento sem explicação aparente.

São situações que só um médico experimentado associa à doença celíaca e que podem levar muito tempo para serem diagnosticadas. Por razões que desconhecemos, as manifestações da doença são geralmente mais intensas nos primeiros anos de vida e tendem depois a diminuir de intensidade. Assim, na criança mais velha e no adolescente, as falhas na dieta não levam muitas vezes à diarreia e o doente continua a sentir-se bem. Este facto pode levar, como já vimos, ao abandono do tratamento.

Infelizmente a doença celíaca não tem cura pelo que a reintrodução do glúten na alimentação determinará mais tarde ou mais cedo o reaparecimento de alguns sintomas: anemia, aumento discreto do volume do abdómen, baixa no rendimento escolar, paragem do crescimento, ausência ou perturbações da mestruação e, no adulto, baixa de fertilidade ou mesmo esterilidade. Deve portanto acentuar-se que uma vez estabelecido com segurança o diagnóstico, A DIETA TERÁ DE SER CUMPRIDA DURANTE TODA A VIDA.

O que ainda não está perfeitamente esclarecido é a razão pela qual só algumas pessoas são intolerantes ao glúten e desenvolvem a doença. É natural que intervenham aqui factores relacionados com a alimentação do indivíduo, o que poderá de alguma forma justificar a inexistência desta patologia nos países do oriente onde a base alimentar não é o trigo.

Hoje porém não restam dúvidas de que existe uma predisposição hereditária claramente transmitida, pois as famílias de celíacos contam com um número de doentes francamente superior ao que seria de esperar na população em geral. Os estudos efectuados permitiram calcular ser cerca de 10 vezes maior o risco de reaparecimento da doença após o primeiro caso num dos pais ou irmãos. Quando a doença existe em parentes afastados, este risco é muito mais pequeno. Será provavelmente da conjunção destes dois tipos de factores que resulta o terreno favorável para o aparecimento da doença. Esta parece corresponder a uma perturbação do sistema de defesas do organismo que, em consequência disso, reagiria de forma anormal ao glúten alimentar provocando assim as alterações da mucosa intestinal e, em última análise, o aparecimento dos sintomas.

Doença Celíaca: Uma história longa mas interessante
Há cerca de 10 000 anos os povos verificaram que era possível semear a terra e obter colheitas de cereais como o trigo, por exemplo. A partir de então o seu rendimento era tal que lhes permitiu viverem no mesmo sítio sem necessidade de andarem constantemente à procura de alimentos. Uma consequência desta descoberta foi a civilização, outra foi o risco de ter a doença celíaca!

No séc. II um grego, Aretaeus da Capadócia, descreveu doentes com um determinado tipo de diarreia usando a palavra “Koiliakos” (aqueles que sofrem do intestino). Tudo leva a crer que já nessa altura ele se referia àquilo que em 1888 Samuel Gee, um médico de Londres, observou em crianças e adultos e que designou por “afecção celíaca”, aproveitando também o termo grego. No seu escrito, Gee previa com grande intuição que “controlar a alimentação é a parte principal do tratamento…a ingestão de farináceos deve ser reduzida…e se o doente pode ser curado, há-de sê-lo através da dieta”.

Nos anos que se seguiram, vários médicos, particularmente pediatras, dedicaram-se a observar e a tentar compreender as causas desta doença, embora poucos avanços se tenham obtido. Durante a 2ª Guerra Mundial o racionamento de alimentos imposto pela ocupação alemã reduziu drasticamente o fornecimento de pão à população holandesa. O prof. Dicke, de Utrech, verificou então que as crianças com “afecção celíaca” melhoravam da sua doença apesar da grave carência de alimentos. Associou este facto com o baixo conteúdo da dieta em cereais.

Esta associação seria confirmada mais tarde em Birmingham por Charlotte Anderson e trabalhos de laboratório viriam demonstrar finalmente que o trigo e o centeio continham a substância que provoca a doença: o glúten! J. W. Paulley, um médico inglês, observara entretanto num celíaco operado que a sua mucosa intestinal não tinha o aspecto habitual; este facto, confirmado por outros investigadores, foi extremamente importante pois essas alterações passariam a permitir um diagnóstico com bases seguras.

A importância desta descoberta aumentou quando nos anos 50 um oficial americano, Crosby, e um engenheiro, Kugler, desenvolveram um pequeno aparelho com o qual se podiam efectuar biópsias do intestino sem necessidade de operar o doente. Este aparelho, a cápsula de Crosby, ainda hoje, com pequenas modificações, é usado para fazer o diagnóstico da doença celíaca.

Ao longo do tempo esta doença tem sido chamada de muitas maneiras, como celiaquia, enteropatia sensível ao glúten, sprue celíaco, sprue não tropical, etc. Todos estes nomes se referem à mesma situação mas alguns deles foram utilizados por investigadores que estavam convencidos de que se tratava de um problema diferente.

Para terminar com este estado de coisas, a Sociedade Europeia de Gastroenterologia e Nutrição Pediátrica (ESPGAN) propôs em 1969 um certo número de critérios que permitissem um diagnóstico e tratamento correctos. Assim, quando falamos de doença celíaca estamos a referir-nos a uma situação de intolerância permanente ao glúten que se acompanha de lesões do intestino mais ou menos características, lesões estas que melhoram quando o glúten é retirado da alimentação e voltam a agravar-se quando ele é reintroduzido.

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